O turismo rodoviário tem atraído mais consumidores, diante do aumento de passagens aéreas, da inflação e dos combustíveis. O cenário favoreceu a retomada das viagens por terra e trouxe também novos concorrentes ao mercado. Capitalizadas, novatas como Buser e Flixbus chegam a oferecer passagens de graça ou pelo valor simbólico de R$ 0,20.
O mercado rodoviário deve transportar 3,1 milhões de passageiros neste ano, alta de 14,8% na comparação com 2019, conforme projeção da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati). Em 2020, foram transportados 1 milhão de passageiros.
A mais nova entrante no mercado brasileiro é a startup Flixbus, controlada pela empresa alemã FlixMobility. O grupo chegou no Brasil em 2019, mas por causa da pandemia acabou postergando o início da operação. As vendas de passagens começaram ontem e a primeira viagem será no dia primeiro de dezembro. São duas rotas iniciais: São Paulo - Rio de Janeiro e São Paulo - Belo Horizonte. O trecho é vendido a partir de R$ 19,99 - mas o grupo abriu uma promoção em que o bilhete chega a sair por R$ 0,20.
A Flixbus, fundada em 2013, opera em 37 países e levantou, em junho deste ano, US$ 650 milhões (entre participação acionária e dívida) com investidores - transação que avaliou a companhia em US$ 3 bilhões.
O modelo de negócios da startup consiste em trazer para sua plataforma empresas de transporte rodoviário que possuem licenças para operar determinadas rotas. À Flixbux, caberá a parte de vendas, marketing e precificação. Ao operador, cabe a parte operacional e de manutenção. A primeira parceira no Brasil é o Grupo Adamantina, presente em nove Estados.
“Já temos outras linhas fechadas com a Adamantina, entre quatro ou cinco rotas no eixo Sul e Sudeste”, disse Edson Lopes, diretor Brasil da FlixBus, ontem. No total, a startup alemã separou US$ 100 milhões para investir no Brasil.
Outra bastante agressiva na busca por mercado é a startup Buser, que avançou com uma captação de R$ 700 milhões em junho. A empresa expandiu seu negócio para o Nordeste e ofereceu viagens gratuitas em 26 trechos em setembro.
A demanda é tamanha que a Buser vem batendo a cada mês novos recordes de transporte de passageiro - em outubro foram 600 mil, um crescimento de 30% contra setembro e sua melhor marca mensal desde que começou a operar, em 2017.
Letícia Pineschi, conselheira da Abrati, contou que o setor hoje tem uma forte oportunidade nas mãos de fidelizar clientes dos modais aéreo e de turistas para o transporte rodoviário. “Temos um crescimento nos custos muito significativo, como combustível e pneus. Mas estamos mantendo os preços porque não podemos perder essa oportunidade”, disse. Há associados da Abrati dando descontos na casa de 70% em compras antecipadas.
Pineschi ponderou que promoções, na esteira da disputa por mercado, não é uma realidade de hoje. “Ela vem se estabelecendo desde a chegada das autorizações para se operar”, disse.
A autorização surgiu em 2014 (lei 12.996), permitindo que os serviços de transporte interestadual e internacional de passageiros pudessem ser explorados sem licitação. A modalidade tem sido alvo de debates no Supremo Tribunal Federal (STF) acerca de sua constitucionalidade. Muitas empresas já receberam autorização, mas novas liberações foram suspensas diante de questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU) acerca de autorizações com irregularidades.
A Flixbus e seu modelo de negócio no Brasil não despertou preocupação do segmento tradicional. “Até o momento, vemos que é uma concorrência saudável e que não vem a deteriorar o mercado nem no médio e nem no longo prazo”, disse Pineschi.
A disputa com a Buser, entretanto, na visão da Abrati, é desleal. Segundo a associação, o setor é obrigado a cumprir com uma série de requisitos (como gratuidade de passagens e embarque em rodoviária). Já a startup usa a figura do fretamento colaborativo, que na visão das empresas tradicionais se assemelha ao operador regular - o que é regido por outra legislação.
Em nota, a Buser disse que a chegada de concorrentes é positiva ao colaborar com a abertura do mercado, “movimento que sempre defendemos’” Sobre as críticas da Abrati, a Buser disse que seu negócio “é legal, justo e necessário para o avanço da mobilidade no Brasil”.
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