Com o brasileiro cheio de vontade de viajar depois de ter ficado em casa por causa da pandemia, mas com pouco dinheiro no bolso em meio a um ambiente de inflação e gasolina em alta, as viagens de ônibus para este feriadão estão disparando. A aposta do setor é já registrar no intervalo um volume de passageiros maior do que em igual período de 2019. O otimismo leva a uma aposta de crescer também no fechamento deste ano contra o pré-pandemia.
Nas associadas da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), as vendas para as festividades de 12 de outubro finalizadas até a quinta-feira passada já superam em 30% a marca alcançada no feriado de 7 de setembro, importante data que marcou a retomada do setor após o pior momento da pandemia.
“Com o bom desempenho, o setor já vai superar o registrado em 2019”, disse Letícia Pineschi, conselheira da Abrati. O feriado é muito forte por causa das celebrações religiosas e levam sempre milhares de turistas a regiões como Aparecida (SP).
Para além do custo com a gasolina, que ganhou um novo aumento de 7,2% nas distribuidoras da Petrobras no sábado, alugar carro tem se tornado cada vez mais caro. No segundo trimestre deste ano, o ticket tíquete médio do aluguel de carros das três maiores do setor (Localiza, Unidas e Movida) subiu 8,65% ante 2019 e de 46,5% contra o período de abril e junho de 2020, para R$ 79,93, com o cliente buscando um transporte mais individual durante a pandemia. Do outro lado, a inflação tem corroído o poder de compra do brasileiro. Considerando apenas setembro, o IPCA atingiu 1,16%, o mais alto para o mês em mais de 20 anos, desde 1994, segundo dados do IBGE.
O orçamento mais curto levou a uma mudança brusca no perfil do viajante. Antes, na média, 30% dos viajantes do sistema regular intermunicipal era de turismo e lazer. Agora, a prévia de uma pesquisa em andamento da Abrati mostra que essa participação saltou para 61% - outros 29% viajam para visitar parentes (o que tem forte relação com turismo) e 10% a trabalho/estudo.
“Isso demonstra uma migração do transporte. Antes, o turista de lazer acabava considerando outros modais. Com a gasolina cara, passagens aéreas e custo para despachar mala a gente percebe que mais gente tem interesse em usar o ônibus de linha para turismo”, disse.
Em 2020, o setor transportou apenas 1 milhão de passageiros, contra 2,7 milhões em 2019, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). A previsão para o fechamento deste ano, nos cálculos da Abrati, é de 3,1 milhões, alta de 14,8% na comparação com o pré-pandemia.
O bom momento para o setor também tem sido sentido na Buser, startup de intermediação de viagens de ônibus. A mineira contabilizou um recorde diário histórico de embarques na sexta-feira, de 40 mil passageiros (o maior recorde diário até então havia sido no feriado de 7 de setembro, quando a empresa embarcou 32 mil viajantes num único dia). Diante do cenário, a startup está convocando mais 400 ônibus pelos seus parceiros para dar conta da demanda.
“Nossa estimativa é transportar 150 mil passageiros nos cinco dias do feriado”, disse Marcelo Vasconcellos, co-fundador da statup mineira. A movimentação prevista para o feriado é 50% maior do que o registrado no de 7 de setembro.
O menor poder aquisitivo do brasileiro atualmente pode ser percebido diante da maior procura dentro da Buser por viagens mais longas. “Tivemos um crescimento substancial nesses trechos mais longos. Belo Horizonte e Rio, por exemplo, que é possível fazer de avião, cresceu muito”, afirmou. O maio fluxo na plataforma é de viagens do interior para as regiões praianas.
Já de acordo com a plataforma ClickBus, as buscas por passagens rodoviárias para o feriado de 12 de outubro já estão 127% maiores do que as registradas em 2020. As cidades do litoral são os destaques entre os que pretendem aproveitar o feriado. São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte se mantêm no topo das buscas, mas Guarapari, Florianópolis, Paraty e Aracaju têm se tornado cada vez mais relevantes entre os viajantes.
“Mesmo dentro dos cenários mais otimistas que estávamos trabalhando, nos espantamos com o aumento de passagens compradas - sinal que a reabertura gradual está acontecendo e que as pessoas querem voltar a viajar mais, além da crescente adoção dos canais digitais”, conta Phillip Klien, CEO da ClickBus.
Segundo a ClickBus, em setembro, no feriado da independência, foi registrada a maior taxa de ocupação dos ônibus desde meados de maio. Ao todo os ônibus partiram das rodoviárias com cerca de 75% de ocupação – resultado que tende a ser ainda melhor neste feriado.
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