Sinal verde para Localiza e a Unidas

Cade aprovou compra, mas estabeleceu algumas condições para diminuir os efeitos sobre a concorrência do acordo entre as duas maiores locadoras de veículos do país

O Tribunal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou ontem a compra da Unidas pela Localiza, as duas maiores locadoras de veículos do país, com “remédios” para diminuir os efeitos da união sobre a concorrência.

O novo grupo terá que vender a marca Unidas para um novo competidor no mercado, encerrar a cláusula de não concorrência com a Vanguart (empresa parceira nos Estados Unidos) e se desfazer de lojas e de parte da frota de veículos destinados a aluguel no varejo.

Detalhes das condições não foram divulgados pelo Cade, mas o Valor apurou que a Localiza aceitou se desfazer de cerca de 50 mil carros para conseguir o sinal verde do órgão antitruste. O acordo cria uma gigante com receita líquida de R$ 17 bilhões e uma frota de 454 mil veículos, segundo cálculos dos analistas do Goldman Sachs.

Os conselheiros liberaram o negócio diante de remédios mais amargos do que recomendados pela Superintendência-Geral (SG) do Cade em setembro, como já previsto por analistas do setor, que na época esperavam mais restrições. A SG recomendou, por exemplo, a venda de 20 mil veículos.

A aprovação de ontem foi bem recebida pelo mercado. As ações da Localiza fecharam o dia ontem em alta de 3,13% na B3, para R$ 59,29, enquanto os papéis da Unidas saltaram 4,63%, para R$ 26,62. As açõs da rival Movida, terceira maior do país, que se manifestou ao Cade contra o negócio, por vê-lo como lesivo à concorrência, fecharam em queda de 0,49%.

O plano de incorporação da Unidas pela Localiza foi anunciado em setembro de 2020 e passou a ser analisado pela autarquia no início deste ano. O caso dividiu os conselheiros, que aprovaram o negócio por três votos a favor e dois contra.

A vitória saiu com os votos favoráveis de Lenisa Prado, relatora do caso, que foi seguida por Luis Hoffman e pelo presidente Alexandre Cordeiro. Lenisa destacou a aplicação dos novos “remédios” à operação. “É uma proporção até espantosa, nunca imaginei que as empresas chegariam a esse ponto”, afirmou na sessão.

As restrições incluem ainda desinvestimento em veículos usados, o compromisso de não realizar novas aquisições envolvendo o aluguel de carros no varejo por três anos a contar da data da decisão do Cade e notificar qualquer operação pelo prazo de dois anos posteriores. Notificar operações de gestão e terceirização de frotas pelo prazo de cinco anos e não aliciar executivos e gerentes de compras por cinco anos, nem alienar pessoal chave por um período a partir do desinvestimento, também foram medidas acordadas pelas empresas com o órgão antitruste.

“O pacote de desinvestimento ficou extremamente robusto”, afirmou Cordeiro. “Temos um percentual muito grande de desinvestimento, inclusive com venda de marca e uma série de outros remédios comportamentais”, acrescentou. Os compradores para os ativos precisam ser submetidos à chancela do Cade.

Abriram divergência os conselheiros Sérgio Costa Ravagnani e Paula Farani, que votaram pela reprovação. Para Farani, trata-se de uma “fusão em direção ao monopólio”. Ela acrescentou que o alegado objetivo da operação pode ser obtido pela Localiza sem a compra de seu rival. “O que se nota é que a Localiza, como líder de mercado, já tem todas as possibilidades de investir”.

Os analistas de mercado Bruno Amorim e Joao Frizo, do Goldman Sachs, avaliaram o negócio como positivo para as duas envolvidas, por criar oportunidades de sinergia e escala. “Entretanto, a venda da marca Unidas traz incertezas adicionais ao futuro do negócio, especialmente no segmento de RAC [aluguel no varejo], onde acreditamos que a marca tem um papel mais importante no engajamento de cliente”, escreveram, em relatório a investidores.

O banco acrescentou que, caso a nova companhia a ser formada resolvesse vender toda a frota de RAC da Unidas (cerca de 71 mil veículos), isso representaria uma redução de 15% na frota total da gigante a ser criada. “Destacamos que o Cade apontou que os carros e lojas a serem vendidos devem estar localizados sobretudo em cidades onde a Movida não está presente e/ou com baixa presença de players menores”, disse.

Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico. 
 

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