Para grupos de segurança, inflação é o próximo risco após a pandemia

Aumento dos preços deve levar a uma alta de dois dígitos na folha de pagamentos, preveem empresas

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O Grupo Albatroz teve alta de 15% na receita com Caixa e Banco do Brasil por causa da pandemia, disse Alan Gomes. (Foto: Albatroz/Divulgação)

A pandemia afetou drasticamente diversos setores. Mas, mesmo de portas fechadas, a proteção do patrimônio não foi deixada de lado. Depois do susto inicial, as empresas de segurança conseguiram até ampliar o faturamento.

O desafio do setor agora é a inflação, que deve levar a uma alta de dois dígitos na folha de pagamentos - historicamente, 85% dos custos do setor é com pessoal. Repassar essa alta aos clientes será um problema no ano que vem e a aposta é usar a tecnologia para reduzir custos.

O grupo GR, empresa de São Paulo (mas com forte atuação no Norte e Nordeste, sobretudo em condomínios), precisou dispensar cerca de 700 pessoas devido ao impacto da pandemia nos primeiros meses do ano passado.

A recuperação não demorou a chegar e a empresa fechou 2020 com faturamento de R$ 570 milhões, uma alta de 4% no ano. Para 2021, a expectativa da GR é alcançar R$ 630 milhões. “De todo o pessoal que a gente dispensou, já recontratamos 85%”, disse Maurice Braunstein, presidente do grupo, que tem 12 mil funcionários.

O Grupo Albatroz, um dos maiores do setor no país, tem forte ligação com o segmento de hospitais, bancos e indústria de produtos hospitalares. A demanda cresceu para esses setores, o que compensou a queda de outros, como os Tribunais de Justiça, que suspenderam o atendimento presencial na pandemia.

“De saída, quando foi decretada a pandemia, houve necessidade de acréscimo de postos nas instituições financeiras [por causa do pagamento do auxílio emergencial]. Só na Caixa e BB, acrescentamos 15% de faturamento, já que eles precisam de pessoas para conseguir organizar a fila”, disse Alan Gomes, gestor comercial do Albatroz.

A empresa registrou faturamento de R$ 578 milhões no ano passado, com avanço de 10% (sem considerar os cerca de 5% de dissídio). Da receita, 85% vêm do setor de vigilância. São empregados 9.714 pessoas apenas no braço de segurança, efetivo que não foi prejudicado por causa da pandemia.

Mas o cenário ainda mostra riscos atrelados ao aumento de custos e inflação previstos para 2022. “Os salários ou são ajustados pelo IPCA ou pelo INPC e todos eles estão com mais de 10% de acúmulo”, disse Gomes.

O impacto esperado pelas empresas do setor na folha é de dois dígitos. “Estamos em um cenário que meus clientes vão ter perda de faturamento. O ano que vem vai ter muita procura no mercado para negociar a inflação”, disse.

As oportunidades também apareceram para a Power Segurança, que representa 25% do Tejofran - grupo que fatura por ano cerca de R$ 1 bilhão. O braço de segurança da empresa, que opera apenas em São Paulo, tem forte exposição em lojas de rua do varejo. Entre suas clientes estão gigantes como Casas Bahia e Via Varejo.

“Embora as pessoas não estivessem em circulação, o patrimônio não podia ficar desprotegido. Alguns deles (clientes) pararam e outros não. A pandemia atrapalhou um pouco, mas tivemos muitos serviços avulsos, com empresas precisando reforçar segurança”, disse Marcos Marangão, diretor-executivo de multisserviços do Tejofran.

A tecnologia tem sido uma ferramenta importante contra o aumento de custos, disseram os executivos. Na GR, por exemplo, é possível eliminar cerca de R$ 20 mil de custo ao mês da prestação de serviço de um prédio com o uso de câmeras que leem placa de carros. “É transformar o time de analógico para digital”, disse Braunstein.

Para além de tecnologias, o desafio é treinar a equipe para usá-las, assim como convencer as empresas a adotar novas formas de monitoramento.

Já Marangão destacou que há vários equipamentos no mercado capazes de reduzir custos na segurança. No início, segundo ele, a vigilância eletrônica tem um investimento inicial mais alto, mas há casos em que no prazo de três anos o custo total chega a ser 30% menor.

Assim como em outros setores da economia, há um movimento de consolidação em curso, puxado sobretudo pela GPS, líder no segmento de ‘facilities’ (que engloba serviços como manutenção predial, zeladoria etc.).

Sob administração de famílias, os grupos do setor de segurança tendem a ser resistentes aos movimentos de consolidação. Listada na B3, a GPS já comprou sete concorrentes somente neste ano, sendo três deles com operações também no setor de segurança (Global, Única e, mais recentemente, a Rudder). O total de aquisições representa R$ 1,7 bilhão de receita bruta adquirida.

A empresa registrou receita líquida de R$ 1,65 bilhão no terceiro trimestre, com alta de 46% na comparação com igual período de 2020. O setor de segurança representou 33% da receita da empresa nos primeiros nove meses deste ano. O lucro líquido no terceiro trimestre foi de R$ 99 milhões, o que representou crescimento de 49% em base anual.

Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico.

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