Amparado por uma forte demanda na pandemia, o setor de locação deverá registrar um crescimento de dois dígitos de faturamento em 2022. A estimativa foi dada por representantes da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), ontem, após a divulgação de que o setor superou o faturamento do pré-pandemia em 2021. Entretanto, repor os veículos continuará sendo um problema e a Abla espera um déficit de cerca de 200 mil carros nas entregas às locadoras neste ano.
As locadoras do Brasil atingiram em 2021 uma frota total de 1,136 milhão, crescimento de 12,8% na comparação com 2020. Foram emplacados pelas locadoras 441,8 mil carros, alta de 22,7% no ano. Em 2021, o segmento registrou faturamento líquido de R$ 20,6 bilhões, crescimento de 8,4% ante 2019, recuperando-se assim do impacto da pandemia.
“Conseguimos crescer na pandemia em momento de muita dificuldade”, disse o presidente do Conselho Nacional da Abla, Marco Aurélio Nazaré. Ele emendou: “O crescimento na receita virá diante fatores como a entrada de mais carros SUV”.
Cada vez mais os veículos na modalidade SUV estão conquistando os usuários no Brasil. No ano passado, eles representaram 20,39% dos emplacamentos das locadoras e 14,58% de toda a frota.
Nazaré destacou que para este ano o setor deverá enfrentar novamente desafios na compra de veículos. “Existe expectativa de que a partir do segundo semestre vamos ter indústria com produção maior. Mas é bom lembrar que não temos capacidade forte sem produção no terceiro turno nas montadoras”, disse. Hoje, as montadoras basicamente operam com dois turnos.
O volume de entrega de veículos no ano passado foi uma surpresa para a Abla. Conforme explicou o conselheiro gestor da entidade, Paulo Miguel Junior, a expectativa era receber cerca de 420 mil veículos no ano. O número foi superado diante da mudança das novas regras de emissões e consumo para veículos produzidos no Brasil, o chamado Proconve L7.
“Não esperávamos todo esse volume no final do ano. Por conta da mudança nas regras, a indústria precisou desovar os veículos de L6. Isso aumentou a participação do setor no total de emplacamentos para 25,55% (percentual que historicamente ronda os 20%)”, disse Miguel Junior, durante coletiva com jornalistas.
Miguel Junior disse que a indústria precisaria ainda de 600 mil veículos para conseguir regular os estoques e avançar com o processo de renovação de frota. O segmento, entretanto, espera receber neste no algo perto de 400 mil. “Temos perspectiva de continuar a compra em torno de 20% a 22% dos emplacamentos anuais”, disse. E emendou: “Se indústria produzir mais, podemos aumentar compra. Mas provavelmente a indústria não conseguirá nos atender”, disse.
Com os desafios das montadoras, o desconto das locadoras brasileiras na compra de veículos junto caiu de algo entre 10% e 12% para perto de 6%. Mesmo com os empecilhos, as locadoras conseguiram aumentar a frota ao reduzir o número de vendas de seminovos no mercado. A estratégia, entretanto, fez a idade média da frota saltar de 14,9 meses em 2019, nível mais baixo na base da Abla, para 27,4 meses atualmente.
No ano passado, o carro mais emplacado pelas locadoras foi o Fiat Mobi, com 29,5 mil unidades. Em 2020, o líder tinha sido o Gol, com 38 mil unidades e em 2019 foi o Onix, com 84,8 mil unidades.
Questionado sobre o impacto da redução do IPI para os veículos (queda na casa de 18,5%), Nazaré disse que o governo adotou o passo para aquecer a venda no varejo, que “está andando de lado”. Mas o desconto foi prejudicado pelo aumento de preço do carro no mercado. “Não houve redução prática nesse primeiro momento, apesar de a intenção ter sido importante”.
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