De olho no mercado de locação de veículos, que tem disparado na pandemia, Porto Seguro e Cosan vão criar uma joint venture no setor de mobilidade. O negócio irá incorporar o braço de assinatura de veículos da Porto, chamado Carro Fácil, e que hoje conta com uma frota de 9,2 mil veículos. Já a Cosan entrará com um aporte de capital inicial de cerca de R$ 300 milhões.
Em conversa com o Valor, o presidente da Porto Seguro, Roberto Santos, e o presidente da Cosan, Luis Henrique Guimarães, explicaram que o racional por trás do projeto é a forte sinergia entre os negócios.
“As duas empresas são muito fortes em mobilidade. A Porto foi a pioneira em assinatura de automóveis em 2016, negócio que tem crescido bastante, e surgiu a oportunidade de unir forças”, disse Santos.
A empresa ainda não tem um nome definido, mas fará parte de um projeto chamado Mobitech. A parceria dependerá da autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para prosseguir, mas os executivos têm expectativa de um veredicto positivo (dentro do rito mais célere, a análise duraria até 240 dias).
Guimarães explicou que, num primeiro momento, o foco da joint venture é continuar seu crescimento no braço de assinatura de veículos. “O próximo passo seria gestão de frotas (leves e pesados), o B2B. Por último, entram as outras formas de locação (entre elas o aluguel diário)”, disse. Cosan e Porto terão, cada uma, 50% da joint venture.
Com o negócio as duas empresas se comprometeram a explorar conjuntamente os seus ecossistemas. Do lado da Cosan entra a força da rede Raízen espalhada pelo Brasil.
Já a Porto tem um amplo serviço voltado aos donos de automóveis, como o seguro (5 milhões de usuários), além da empresa de pagamentos ConectCar – cuja fatia de 50% que era do Grupo Ultra foi comprada pela Porto neste ano por R$ 165 milhões. O outro sócio da ConectCar é o Itaú, que também tem participação na Porto.
O segmento de assinatura tem sido uma das principais apostas das locadoras no Brasil, como Localiza, Unidas e Movida. A mais recente a entrar no ramo foi a Ouro Verde (quarta maior), que em meados do mês passado lançou o Ouro Verde Smart, com investimento de R$ 140 milhões na antecipação de pedidos junto às montadoras para este ano.
Apesar de executivos de peso afirmarem que o negócio pode ser até maior do que o aluguel de carros (chamado de RAC, principal operação), os dados do segmento ainda são desconhecidos.
Na divulgação dos resultados para o terceiro trimestre, o CEO da Movida, Renato Franklin, adiantou que o braço de assinatura tem margem Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) e ROIC (retorno sobre capital investido) maiores do que todos os outros segmentos da empresa.
Um dos desafios no curto prazo para a nova empreitada da Cosan e da Porto é a falta de veículos no mercado. A falta de componentes, que deixa a cadeia em xeque, não ser realidade ainda no ano que vem, mas Santos afirmou que a Porto tem tradição com as montadoras via Carro Fácil e sobretudo na compra de autopeças.
Um dos movimentos mais aguardados no mercado de locação é a proposta da Localiza, líder do setor, de incorporar a Unidas, vice-líder. O tema passa hoje por escrutínio do tribunal do Cade e o veredito deve sair até 6 de janeiro. Neste cenário, a futura joint venture pode vir a arrematar parte dos desinvestimentos a serem feitos.
Os chamados remédios da autarquia ainda vão ser chancelados no caso Localiza e Unidas, mas venda de frota e agência em municípios e aeroportos com sobreposição é um dos mais prováveis.
“Quando tem uma empresa no nosso ramo, temos a obrigação de olhar”, disse Guimarães. “Mas primeiro vamos ver o que vai acontecer”.
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