O setor hoteleiro nacional tem conseguido recuperar mês a mês sua operação, mas a duras penas. A sinalização dada por executivos e entidades ouvidas pelo Valor é de que uma retomada da ocupação nos níveis de 2019 não chegará antes do segundo trimestre do ano que vem. Na contramão, recompor a diária média será um desafio mais longo.
Pesquisa feita pela Bonadona Hotel Consulting a pedido do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB) com cerca de 700 hotéis mostrou que a ocupação fechou agosto em queda de 28% em relação a 2019 (em março deste ano, o recuo era superior a 60%).
Já a diária média (corrigida pelo IPCA) ficou 24% abaixo em igual base. O revpar (receita por quarto disponível, principal indicador do setor) fechou agosto em queda de 45% na comparação com 2019.
“A partir do segundo trimestre (2022) os números provavelmente deverão voltar ao nível pré-crise na demanda, mas a diária média eu não sei se conseguimos”, disse o presidente-executivo do FOHB, Orlando de Souza.
O setor também tem enfrentado problemas com a disparada dos preços de alimentos e energia. A inflação acumulada em 12 meses no Brasil bateu dois dígitos (10,25%) em setembro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O IGPM está nas alturas, a inflação dos alimentos está aumentando mais do que o IPCA e os custos de energia vão ter uma escalada enorme”, disse Souza.
Diante desse cenário, as entidades têm recomendado que os hotéis não esperem a retomada da ocupação para então aumentar o valor da diária. O problema é fazer isso virar uma realidade na crise.
O diretor-geral da ICH Administração de Hotéis (da marca Intercity), Alexandre Gehlen, destacou que os hotéis do grupo operaram no acumulado de janeiro a outubro com revpar de 70% do que costumava ser antes da pandemia.
Um dos desafios agora é fazer a conta de custos bater com a de receita. “Hoje temos um trabalho árduo para recompor preços”, disse. A diária média está cerca de 10% abaixo do que era antes da pandemia na rede.
O Intercity é a sexta maior administradora de hotéis no País e fechou 2020 com 5.374 quartos. Mesmo otimista com a demanda para o fim do ano, o executivo passou um tom cauteloso ao traçar cenários para a retomada total. “Em 2022 não vamos performar como gostaríamos. É ano de eleição, tem a questão econômica... Estamos sendo conservadores na construção do orçamento para o ano que vem”, disse.
Uma das principais dúvidas no mercado hoje é a retomada dos eventos e viagens corporativas. “Qual o porcentual das viagens a trabalho que será substituído por uma videoconferência?” seria, na visão dos executivos, a pergunta de um milhão de dólares. Cerca de 70% dos 100 mil quartos ofertados pelos associados do FOHB tem mais vocação para o braço de negócios que de lazer.
Antônio Dias, diretor-executivo da Royal Palm Hotels e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado de São Paulo (ABIH-SP), disse que o setor hoje está dividido em vários grupos. No meio, estão os hotéis com vocação para turismo, mas que são de maior porte e dependem também de eventos corporativos - cuja retomada está começando.
No extremo pior estão os hotéis com mais voltados para viagens de negócios, sobretudo em grandes cidades como São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte. O lado avantajado está com os hotéis menores e com maior vocação para o turismo de lazer.
“Os hotéis pequenos no litoral norte de São Paulo nunca ganharam tanto dinheiro na vida. Assim como os hotéis de Campos do Jordão”. A ABIH representa sobretudo os hotéis de menor porte e que estão fora de grandes redes.
Na rede Royal Palm Hotels, que fechou 2020 com 1.308 quartos, o faturamento está 50% do que costumava ser antes da covid-19. “Vemos outubro claramente melhor do que setembro. As empresas estão gradativamente retomando confiança e voltando com os eventos e viagens”, afirmou.
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