A Flytour, maior agência de viagens de negócios do país, conseguiu a aprovação de credores financeiros para um plano de recuperação extrajudicial. O processo envolve nove instituições, entre Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, além de fundos de investimentos. O documento informa dívidas de R$ 142 milhões.
Diferentemente da recuperação judicial, na extrajudicial apenas parte dos credores é selecionada e o mecanismo é muito mais célere. Daniel Rodrigues, diretor administrativo e de reestruturação da Flytour, disse que esse é um passo importante no enfrentamento da crise.
O grupo tem feito também negociações com fornecedores, que tem surtido efeito positivo, apesar de uma resistência no início, afirmou ele. “Colocamos a empresa em um ponto de vista de custos no mínimo possível”, acrescentou Rodrigues.
A pandemia teve consequências drásticas para a cadeia de turismo em todo o mundo. Segundo o executivo, a empresa perdeu cerca de 70% do faturamento em 2020 em relação a 2019, ano em que registrou R$ 5,6 bilhões em vendas. “Em 2019, ano de pico, atingimos mais de R$ 540 milhões em vendas em um único mês [maio]. Na crise, teve mês que ficamos abaixo de R$ 30 milhões [abril de 2021]”, disse.
Hoje a companhia está com cerca de 35% das vendas que tinha antes da pandemia. A retomada tem chegado, com boas sinalizações para este segundo semestre.
O maior desafio é entender o ritmo de recuperação do mercado corporativo, que responde por cerca de 35% da receita do grupo. A Flytour é a maior representante no mundo da Amex Global Business Travel.
Alguns especialistas têm dito que parte da demanda corporativa pode vir a ser substituída por conferências virtuais, que caíram no gosto de executivos durante a pandemia.
André Moraes, do Moraes & Savaget, escritório que representa a Flytour, disse que a ideia, ao seguir com a reestruturação extrajudicial, foi preservar ao máximo clientes e fornecedores. “De mais de 1,2 mil credores, a gente concentrou a operação em nove”, afirmou.
Segundo o advogado, um dos motores da recuperação extrajudicial foram as dificuldades para honrar dívidas com bancos menores e fundos de investimentos, renegociadas a juros muito altos durante a pandemia.
Pela proposta aprovada agora, o credor financeiro terá duas opções: receber em até 180 dias 20% da dívida, ou receber integralmente por meio de debêntures de longo prazo (15 anos) a serem emitidas pela empresa.
O plano foi aprovado por 52,6% dos credores envolvidos (o mínimo exigido pela nova legislação é 50%) e começa agora o prazo para que os credores apresentem eventuais impugnações. “Mas elas não podem tratar do aspecto econômico do plano”, afirmou Moraes.
No dia 15, a juíza Andréa Galhardo Palma, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo na 2a Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem, permitiu que os credores, no prazo de 30 dias, questionem se o documento está pronto para a homologação.
Após essa etapa, há um prazo para que os credores financeiros escolham a alternativa de pagamento. A estimativa é de que todo o processo seja concluído em seis meses, segundo Moraes.
Questionado sobre uma possível venda da empresa por conta da crise, Daniel Rodrigues limitou-se a dizer que o mercado de turismo é pulverizado e tem espaço para consolidação. “Enxergamos valor imenso nisso [fusões e aquisições no setor]. Hoje, a energia é na reestruturação”, ponderou. No dia 9, “O Estado de S.Paulo” noticiou que a Flytour está em negociações para uma possível venda das operações, segundo fontes ouvidas pelo jornal.
Esta reportagem foi publicada originalmente no Valor Econômico.
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