Gol aumenta prejuízo, mas prevê recuperação a partir de dezembro

O setor aéreo ainda passa por um período difícil, depois da pandemia ter feito o mercado desabar, mas o consumidor está voltando a buscar passagens. É o que sinalizou a Gol no seu balanço para o terceiro trimestre, mesmo após reportar um prejuízo líquido de R$ 2,53 bilhões, alta de 46,9% na comparação anual. O grupo cortou custos para deixar a casa arrumada para o quarto trimestre, cuja estimativa é de crescimento de 40% na receita na comparação com 2020.  

“Agora podemos projetar com confiança uma recuperação total no primeiro trimestre de 2022. A previsão deriva do nosso próprio desempenho positivo”, disse o presidente da aérea, Paulo Kakinoff, em teleconferência.   

A empresa transportou 4,99 milhões de passageiros no terceiro trimestre, alta de 91,7% no ano, mas 49% abaixo do registrado em igual período de 2019. A receita operacional líquida foi de R$ 1,9 bilhão, crescimento de 96,4% no ano, mas queda de 48,6% ante dois anos.  

Apesar das dificuldades, os executivos da aérea passaram otimismo com os últimos meses de 2021, com o início da alta temporada, que tende a levar a Gol a fechar o trimestre com uma receita de R$ 2,6 bilhões, alta de 40% na comparação com o quarto trimestre de 2020.  “Em dezembro, chegaremos bem perto de uma recuperação total”, disse Kakinoff.  

A Gol espera encerrar o trimestre com R$ 3,8 bilhões em liquidez e R$ 15,8 bilhões em dívida líquida ajustada (relação dívida/Ebitda de 5,2 vezes, contra 9,7 no terceiro trimestre). 

A aérea projetou ainda uma receita do programa de fidelidade (Smiles, que foi reincorporado ao grupo) acima de R$ 600 milhões nos últimos três meses deste ano. Para 2022, o faturamento bruto do negócio deverá ser superior a R$ 2,5 bilhões.  

A aérea tem buscado arrumar a casa para conseguir chegar com caixa para atender à demanda. No terceiro trimestre, conseguiu reduzir em 15,9% o CASK (ou seja, o custo operacional dividido pelo total de assentos-quilômetro oferecidos), para R$ 0,3664. Excluindo os combustíveis (que estão em tendência de alta), o CASK caiu ainda mais, 22,8%, para R$ 0,2740.  

Parte da estratégia de redução de custos da empresa está na conversão das aeronaves para o Boeing 737 MAX, que consome 15% menos combustível do que o modelo NG. A empresa fechou o terceiro trimestre com 129 aeronaves e espera receber mais uma até dezembro. Para 2022, a empresa planeja ter 136 aeronaves no total, número que irá para 139 em 2023, 147 em 2024 e, por fim, 150 em 2025. “Estamos acelerando a transição. Em 2025, teremos mais de 50% da nossa frota composta por MAX”, disse Kakinoff. 

Na contramão dos concorrentes, que têm ampliado significativamente a oferta de voos, inclusive nos mercados internacionais, a Gol tem adotado uma postura bem mais conservadora. No lado internacional, o Kakinoff disse que a Gol deverá voltar a voar para os Estados Unidos apenas no segundo trimestre de 2022. A empresa volta em breve para destinos internacionais como Punta Cana e Cancún.  

O mercado norte-americano é o principal destino dos brasileiros. As fronteiras norte-americanas para turistas totalmente vacinados foram abertas na segunda-feira (8).  

Questionado por analistas, Kakinoff disse que há dois fatores que estão deixando o cenário de retomada internacional muito incerto. O primeiro deles é a depreciação do real contra o dólar, que encarece as viagens.  

“O segundo ponto é que há um represamento de vistos para os Estados Unidos e que não vai ser endereçado no curto prazo. Uma família de cinco membros muito provavelmente tem um que não tem visto”, disse.  

Diante do cenário, a empresa optou por oferecer nos seus canais voos para os Estados Unidos dentro da parceria de compartilhamento de voos com a American Airlines. “Com isso, estamos atendendo nossos clientes e suportando o crescimento de capacidade da American Airlines. Acreditamos ser a melhor estratégia”, disse.

Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico.