Após adquirir a maior agência de viagens de negócios do país, a Flytour, o empresário mineiro Marcelo Cohen, dono da Belvitur, está com planos ambiciosos. A aquisição foi anunciada ontem por R$ 500 milhões, considerando dinheiro e dívidas da Flytour, que está em processo de recuperação extrajudicial.
“Ela será a maior empresa de capital fechado e, quando a gente abrir capital, queremos ser a maior empresa de capital aberto do setor. Pode ser que a gente resolva fazer IPO [oferta inicial de ações, em inglês] em 2022 ou 23. A empresa está sendo preparada para a abertura de capital”, disse Cohen, que também é presidente da agência mineira Belvitur, em entrevista ao Valor.
A Flytour registrou valor bruto de vendas de R$ 5,6 bilhões em 2019, número que caiu para R$ 1,68 bilhão no ano passado por causa da pandemia. Já a Belvitur teve receita de vendas de R$ 800 milhões em 2019.
A CVC, a maior agência de turismo do país, registrou R$ 15,438 bilhões em novas vendas (líquidas de cancelamentos) no país em 2019, montante que caiu 66% em 2020 por causa da pandemia.
Cohen diz que uma de suas ambições é ficar maior do que a CVC. Mas o empresário observa que as empresas operam em segmentos diferentes. Enquanto a Flytour foca mais no público das faixas de renda A e B, a CVC tem um olhar maior para os consumidores das classes C e D.
O objetivo da Flytour é atingir R$ 10 bilhões de receita de venda já em 2023. A meta seria viável, diz Cohen, com ou sem a entrada de dinheiro via o IPO. A aposta do empresário é que a retomada do mercado de viagens será muito forte e exigirá capital - uma vez que primeiro a agência vende a viagem, paga os fornecedores e só recebe depois.
“A necessidade de capital vai ser tão alta que muitas empresas vão ficar pelo caminho. A gente projeta que pelo menos R$ 1,5 bilhão desse crescimento programado virá assim [de concorrentes]”, afirmou Daniel Rodrigues, diretor administrativo e de reestruturação da Flytour. Somente na pandemia, a Flytour ganhou mais de 130 contas corporativas. Ela é a maior representante no mundo da Amex Global Business Travel.
Uma das apostas da Flytour é usar as recentes aquisições na área de tecnologia para elevar sua eficiência - estratégia parecida com a da CVC, que investe milhões na área e inaugurou nesta semana um novo modelo de loja.
A Flytour fará parte de um grupo com 23 empresas, sendo que sete foram adquiridas ou receberam investimento depois do início da pandemia. Outras cinco empresas de menor porte estão em processo de aquisição pela Belvitur.
Em julho, a Flytour conseguiu a aprovação de credores financeiros para um plano de recuperação extrajudicial. O processo envolve nove instituições, entre Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, além de fundos de investimentos. O documento informava dívidas de R$ 142 milhões - a ser assumida pelo novo dono.
Marcos Haaland, diretor de reestruturação da Alvarez & Marsal, escritório que assessorou a Flytour, informou que o foco principal do processo foi preservar a empresa e prepará-la para a retomada. “A estratégia não é apenas de comprar uma empresa, mas reposicioná-la no setor de turismo”, afirmou o diretor.
A aquisição agora carece de algumas pendências, como a homologação do plano de reestruturação do grupo. “Mas nada que a gente vê como algo que possa impedir o negócio”, afirmou Haaland.
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