De olho na demanda, Latam estuda ampliar malha de aeroportos

Dos atuais 49, passaria a operar em 56 e a frota de 133 aviões deve aumentar para 148 em 2022

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Presidente da empresa enxerga potencial de ampliar a operação a 70 terminais. (Foto: Claudio Gatti)

O presidente da Latam no Brasil, Jerome Cadier, estuda aumentar o número de aeroportos onde a companhia aérea opera no país, dos atuais 49 para 56, e acrescentar 15 aviões à frota atual de 133. Mas isso, claro, depende do comportamento da demanda nos próximos meses.

Em 2019, antes da pandemia fazer um estrago no setor aéreo, a Latam aterrissava em 44 aeroportos no Brasil. “Temos meta de chegar a 56 no primeiro semestre do ano que vem, mas tudo vai depender do desenrolar da demanda”, disse Cadier, ao Valor. Ele enxerga potencial de ampliar a operação a 70 terminais.

Cadier também planeja aumentar a frequência de voos. Na ponte aérea Rio-São Paulo, por exemplo, a operação da Latam hoje equivale a 65% do que era antes da pandemia. Em dezembro, considerando toda a sua malha, a empresa retomou 93% da sua oferta de capacidade no pré-crise e a estimativa é de uma recuperação total já em janeiro, alcançando algo entre 800 e 850 voos diários.

A aérea deverá ter ainda uma adição na sua frota no ano que vem de 15 aviões - entre novos e reativação de aeronaves que haviam parado de voar por causa de retração da demanda. Hoje a frota brasileira da Latam é de 133 aeronaves. Cadier ponderou, no entanto, que conseguir aeronaves se tornou um desafio ante a forte procura internacional.

Há mais desafios no caminho. O Latam Group, grupo chileno que controla a Latam Brasil, precisa sair do Chapter 11 (recuperação judicial nos Estados Unidos). O grupo chileno divulgou no final do mês passado seu plano de reestruturação com uma injeção prevista de US$ 8,19 bilhões por meio de uma combinação de capital novo, títulos conversíveis e dívida.

A proposta foi apoiada pelos acionistas da empresa (Delta, hoje com 20% das ações, Qatar Airways, com 10% e a família chilena Cueto, com 16%) e um grupo de credores, que representam 70% das dívidas reconhecidas pela empresa. Os credores que estão nos 30% restantes estão reclamando.

Os passos da Azul para tentar comprar a Latam - inicialmente seria apenas a operação brasileira, mas depois toda a companhia passou a ser alvo - levaram o grupo de credores que representam os outros 30% (entre eles a Lufthansa, a petroleira Repsol e o banco BNY Mellon) a questionar na justiça americana o plano apresentado pela chilena. Alegaram que a proposta da Azul seria mais benéfica aos credores.

Cadier observou que a Latam fechou um plano com apoio dos credores e que conseguiu atender tanto a lei americana quanto a chilena. “Nosso plano tem comprometimento e dinheiro por trás. Não é uma carta de intenção de três páginas”, disse, em referência à proposta feita pela Azul.

O plano da concorrente, segundo ele, é tumultuar o processo da Latam para ela não sair fortalecida da recuperação judicial.

Assim como os credores que divergiram, John Rodgerson, CEO da Azul, diz que o plano da Latam privilegia os acionistas em detrimento dos credores - o que seria ilegal perante a lei de falências norte-americana.

Segundo Cadier, a estimativa é que a Latam consiga todas as aprovações (tanto no Chile, quanto nos Estados Unidos) já no primeiro semestre do ano que vem. Até o dia 27 de janeiro o plano de reorganização apresentado pela Latam deverá ser validado pela justiça de Nova York para então ser votado em assembleia de credores.

A nova Latam deverá ter uma forte diluição dos atuais acionistas, segundo o plano apresentado. Delta, Cueto e Qatar teriam cerca de 27% do capital - o porcentual definitivo ainda vai ser fechado.

A Delta anunciou recentemente que aportou US$ 1,2 bilhão em três aéreas parceiras, entre elas a Latam (além da Aeroméxico e Virgin Atlantic), recurso que iria ajudar as companhias a retomar o negócios após a pandemia. Cadier destacou que o recurso da Delta basicamente firma o compromisso dessa aérea americana de fazer um investimento no plano de recuperação da chilena.

A nova composição acionária, proposta no plano de recuperação judicial, deverá trazer mudanças à Latam, mas Cadier diz que ainda é cedo para saber quando e como elas vão acontecer.

No terceiro trimestre, o prejuízo líquido da Latam Group cresceu 20,7%, para US$ 691,9 milhões. A receita somou U$ 1,3 bilhão, alta de 156,1% ante o terceiro trimestre do ano passado, mas queda de 50,7% ante o período pré-pandemia.

No quarto trimestres e nos próximos ainda há outro desafio: a pandemia e suas novas variantes, sendo a mais recente delas a ômicron.

“Em dezembro, as vendas internacionais ficaram mais estáveis, enquanto em novembro foi um crescimento acelerado”, disse o executivo. A visão é de que a recuperação no mercado internacional, dado este cenário, deverá ser mais lenta. Atualmente, a Latam retomou cerca de 50% das rotas internacionais a partir do Brasil.

Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico. 

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