BeFly compra a Queensberry

Depois de comprar a Flytour, maior agência de viagens de negócios do país, o empresário mineiro Marcelo Cohen fechou a aquisição da Queensberry, uma das agências mais tradicionais no mercado de luxo do país e que enfrenta processo de recuperação judicial, com dívidas de R$ 50 milhões.

A nova empresa, cujo valor de aquisição não foi divulgado, irá se juntar à BeFly, nome dado à holding que nasceu da união da Belvitur com a Flytour e uma dezena de outras empresas.

“Estamos criando um ecossistema de turismo, com vários segmentos que se comunicam e com muita venda cruzada. Buscamos por bastante tempo uma empresa focada no turismo de luxo”, disse Cohen, em conversa com o Valor. O fundador da Queensberry, Martin Jensen, continuará à frente dos negócios da companhia.

Segundo o empresário, a Queensberry deve ter o maior tíquete médio do país, na casa de R$ 85 mil. “Em uma agência normal, que atende classe A e B, o tíquete médio fica entre R$ 10 mil e R$ 15 mil”, disse o empresário.

A Queensberry Viagens nasceu em 1971, em Londres, para atender turistas brasileiros que viajavam ao Reino Unido. Com o tempo, a empresa começou a atuar também nos demais países da Europa. Dez anos depois, a fim de ficar mais próxima de seus clientes, mudou a sede para São Paulo.

Em 2019, o faturamento da Queensberry foi de R$ 390 milhões, cifra que o novo dono espera elevar para R$ 700 milhões em 2023, sobretudo ao ampliar a oferta de pacotes mirando o público acima dos 25 anos - hoje, parte significativa dos clientes da agência tem 50 anos ou mais.

A mais nova aquisição chega em um momento que o setor de turismo enfrenta fortes desafios - que acabaram virando oportunidade de negócios para a BeFly.

A Flytour, que foi comprada em outubro por R$ 500 milhões, conseguiu em julho a aprovação de credores financeiros para um plano de recuperação extrajudicial. O processo envolve nove instituições, entre Bradesco, Banco do Brasil e Itaú, além de fundos de investimentos. O documento informava dívida de R$ 142 milhões - a ser assumida pelo novo dono.

Já a Queensberry entrou em recuperação judicial em junho de 2020 e teve o plano aprovado por credores em abril de 2021. O projeto de reestruturação da companhia envolve o reperfilamento na casa de R$ 50 milhões.

A Queensberry fará parte de um grupo com 24 empresas, sendo que oito foram adquiridas ou receberam investimento depois do início da pandemia. O executivo sinalizou ainda disposição para novas aquisições.

A meta da BeFly é ambiciosa: ser a maior agência de viagens do país, posto hoje ocupado pela CVC, que detém cerca de 25% do mercado.

“A pandemia tem nos ajudado. Estamos com recursos e casa organizada. Aceleramos todas as aquisições”, disse. No radar, há outras seis agências em negociação, além de 12 startups.

Todas as aquisições da BeFly são tocadas com capital próprio. O executivo disse ter sido sondado por investidores, mas nada além de conversas por enquanto. Nos planos também está o de abrir capital em bolsa, mas sem data para acontecer.

Cohen reconhece que o mercado de turismo atravessa uma fase delicada. A nova variante, ômicron, comprometeu uma recuperação importante nas viagens de negócios, braço significativo do grupo com a Flytour, a maior representante no mundo da Amex Global Business Travel.

A Flytour sozinha registrou valor bruto de vendas de R$ 5,6 bilhões em 2019, número que caiu para R$ 1,68 bilhão em 2020 por causa da pandemia. A meta é fazer a empresa alcançar R$ 10 bilhões de vendas em 2023.

Já a Belvitur teve receita de vendas de R$ 800 milhões em 2019, enquanto a da Queensberry foi de R$ 390 milhões. O executivo não deu detalhes sobre como o grave impacto da pandemia se refletiu nos números, mas disse esperar faturamento da holding de R$ 5 bilhões neste ano, contra algo perto de R$ 4 bilhões no ano passado.

A CVC, a maior agência de turismo do país, registrou R$ 15,438 bilhões em novas vendas (líquidas de cancelamentos) no país em 2019, montante que caiu 66% em 2020 por causa da pandemia. O grupo divulga em 15 de março os resultados do ano de 2021.

Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico.