O ataque armado da Rússia contra a Ucrânia, na madrugada de ontem, fez forte pressão sobre os papéis das companhias aéreas ao redor do mundo. No Brasil, Gol e Azul foram impactadas. A invasão, com mortes, levou a uma alta no preço do petróleo e desvalorização do real - cerca de 55% dos custos das aéreas brasileiras são dolarizados e combustível responde por cerca de 30% dos gastos.
A guerra, cuja duração e desdobramentos jogam uma sombra sobre a economia mundial, chega justamente quando o setor de turismo ensaiava uma retomada, depois de dois anos de pandemia e restrições para viajar.
Em dia de forte volatilidade, a American Airlines chegou a perder mais de 5% no pré-mercado da Nasdaq, mas fechou o dia em alta de 1,92%. Na Europa as perdas foram expressivas. A Lufthansa fechou em queda de 6,89% na Bolsa de Frankfurt e a Air France-KLM perdeu 6,56% na Bolsa de Paris.
A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), criticou o conflito. “Esperamos uma resolução rápida e pacífica”, apontou, em nota. A Iata está compartilhando com as aéreas informações vindas de fontes governamentais e não governamentais. A comunicação, disse a Iata, é uma forma de apoiar as aéreas enquanto planejam suas operações diante do fechamento do espaço aéreo da Ucrânia e parte da Rússia.
Ao contrário das aéreas internacionais com operação na Europa e que precisam readequar suas malhas, os impactos sobre as brasileiras estão mais relacionados a câmbio e petróleo, disse Pedro Bruno, analista de transporte da XP. O barril do petróleo do tipo Brent subiu 1,45%, para US$ 95,42. O dólar fechou em alta de 2,02%, negociado a pouco mais de
No fim do pregão da B3, ontem, as ações PN da Gol fecharam em queda de 2,57%. Os papéis PN da Azul perderam 5,85%.
“O preço do petróleo subindo e o real depreciando é bastante negativo para o lado financeiro das empresas”, disse Bruno, observando que aproximadamente 55% dos custos operacionais das aéreas do Brasil é dolarizado.
O setor, disse o analista, já tem visto um salto no preço dos bilhetes diante da alta do petróleo nos últimos meses - o dólar havia dado uma trégua até ontem, quando chegou a ficar abaixo dos R$ 5, mas voltou a subir. Acostumadas à volatilidade, as aéreas têm ferramentas para driblar esse cenário no curto prazo, como contratar hedge cambial. Mas se o conflito se prolongar, a tendência é ter preços mais salgados ao consumidor.
O petróleo mais caro deve levar a um corte de rotas menos rentáveis, disse ontem o presidente da Azul, John Rodgerson. “Quando o preço do combustível aumenta rápido, você corta capacidade, alguns voos não tão rentáveis. Nosso time está olhando rota a rota e o que talvez devemos cortar”, disse. A escalada de agora no preço do petróleo, disse, vai ser sentida pela empresa em 30 dias - o preço de hoje do combustível é uma média da Petrobras dos últimos 30 dias, explicou o executivo.
“O evento de hoje (ontem) é muito desapontador. Acordar e ter uma guerra no Leste Europeu”, disse o executivo. Rodgerson, entretanto, disse que o planejamento da empresa vai ser conduzido com calma e não será baseado nos acontecimentos das últimas horas.
O diretor vice-presidente financeiro e de relações com Investidores da Azul, Alexandre Wagner Malfitani, destacou que a empresa tem conseguido elevar tarifas para fazer frente aos crescimentos dos custos nos últimos meses.
“Nós podemos gerar lucro e Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] mesmo em cenário de elevado petróleo”, disse. Apesar das adversidades, o time da Azul mantém a meta de atingir Ebitda de R$ 4 bilhões neste ano.
Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico. (Com Rodrigo Rocha)
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