As grandes consultorias conseguiram navegar na pandemia com bom resultado. O desempenho foi decorrente da necessidade de as empresas transformarem seus negócios, tanto por causa das mudanças deflagradas com a pandemia, quanto pela demanda por digitalização e adoção de uma agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). O desafio hoje é encontrar pessoal para tocar todos os projetos, dizem executivos dessas empresas.
A KPMG teve receita bruta recorde no país, de R$ 1,7 bilhão, no ano fiscal encerrado em setembro (ver matéria abaixo). A KPMG é uma das quatro maiores empresas mundiais de auditoria, as “Big Four”, junto de EY, Deloitte e PwC.
Já a Deloitte dobrou a aposta no mercado brasileiro e anunciou a entrada de mais 80 novos sócios no Brasil, totalizando 250. A empresa pretende ter outros 150 sócios até 2024.
“Temos mil vagas em aberto. Queremos chegar em maio do ano que vem com 7 mil profissionais (hoje são 6 mil)”, disse Altair Rossato, presidente da Deloitte no Brasil.
A empresa tem visto no Brasil oportunidades de crescimento e a previsão de receita para o ano fiscal corrente, que se encerra em maio de 2022, está na casa de R$ 2,5 bilhões. Globalmente, a receita anual supera os US$ 50 bilhões. No ano fiscal que se encerrou em maio, a receita no Brasil aumentou 7%, enquanto a global cresceu 4%. O braço de consultoria teve alta de 26% no país, ante 5% na média global.
“Em um momento de pandemia nós observamos que as empresas não pararam de se transformar, de investir. Quando voltar a economia, elas precisam estar preparadas. Momento de dificuldade é momento de arrumar a casa”, disse Rossato.
Contratar é o desafio e com isso consultorias e auditorias têm comprado empresas unicamente para incorporar os times. Recentemente, a Deloitte anunciou a incorporação dos funcionários da consultoria mineira CbCloud (150 no total), que vieram para reforçar o braço de transformação digital, dentro da marca Deloitte Digital, trazida ao país recentemente.
Rossato lembrou que a auditoria, que antes era o principal negócio da empresa, hoje responde por cerca de 25% da receita no Brasil. Um total de 30% está com o negócio de consultoria, que engloba todo o time que trabalha com tecnologia e transformação digital. Há ainda atuação nas áreas de impostos, risco e assessoria financeira.
A Alvarez& Marsal tinha antes da pandemia 70% da sua receita no negócio de reestruturação. Hoje, o percentual do segmento é inferior a 50%, o que deu espaço para outros negócios focados na gestão de empresas, serviços digitais e infraestrutura.
“A reestruturação ainda acontece, mas não tem crescido por causa da ajuda do governo e das entidades credoras durante a crise, que deram mais prazos e facilitaram pagamentos”, disse Marcelo Gomes, diretor-geral no Brasil da Alvarez & Marsal.
A busca por mão de obra, assim como nas concorrentes, é o ‘calcanhar de Aquiles’ das consultorias. “O maior desafio de todos nós é que o mercado deixou de ser regional e virou global. Hoje, a gente compete com o mundo todo. E isso é difícil com a moeda desvalorizada”, destacou.
Em vez de frear os negócios da EY Brasil, a pandemia de covid-19 levou o comando da empresa a acelerar seus planos e tomadas de decisões. Mesmo em relação aos demais países no bloco Américas, a unidade brasileira apresentou desempenho superior. No Brasil, a companhia faturou R$ 2,1 bilhões no ano fiscal encerrado em junho de 2021, com alta de 16% no comparativo anual. Já no bloco regional, o avanço foi de 2,8%, para R$ 17,66 bilhões.
O presidente da EY Brasil, Luiz Sérgio Vieira, destacou que o Brasil reporta em reais e representa quase 70% dos países do bloco. No mercado brasileiro, a EY reportou avanço de 2 dígitos em todas as linhas de serviços. Além disso, anunciou um plano de investimentos de R$ 3 bilhões no país, para aplicação em tecnologia, estratégia e capacitação de pessoal, ao longo de cinco anos, a partir de 2022.
Para enfrentar a crise, a EY Brasil contratou mais colaboradores no ano fiscal 2021. Isso representou 40% a mais de contratações, ou 2,7 mil pessoas, sobre a base. O quadro atual é de 6,7 mil colaboradores.
As oportunidades no Brasil também fizeram a PwC se movimentar. O grupo anunciou em meados de agosto um plano para investir R$ 1,4 bilhão no país em cinco anos.
Metade do recurso separado pela PwC é direcionado à formação de mão de obra e mentoria, já o restante em tecnologia - com espaço para aquisições.
O plano faz parte de um programa global da PwC, que prevê investimentos de US$ 12 bilhões nos próximos cinco anos, criando cerca de 100 mil novas vagas de emprego. A empresa tem hoje cerca de 4 mil funcionários no Brasil.
Reportagem publicada originalmente no Valor Econômico. (Colaboraram Rafael Rosas, do Rio, e Ivone Santana, de São Paulo)
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