Símbolo da resistência e tipicamente brasileiro, o bioma da Caatinga vem sofrendo com as centenas de anos de degradação ambiental. Presente em oito dos nove estados do Nordeste, além do norte de Minas Gerais, a mata branca, como é a tradução do seu nome que vem do tupi-guarani, já teve cerca de 42% do seu território modificado pela ação do homem, segundo estudo realizado pelo MapBiomas.
De acordo com dados coletados, de 1985 a 2022, a Caatinga perdeu em vegetação natural em torno de 6 milhões de hectares. Para se ter ideia da dimensão, a quantidade corresponde é como se uma Suíça e meia tivesse sido desmatada ao longo dos últimos 37 anos.
Entre os principais fatores que levam ao desmatamento do bioma, estão a agropecuária e a agricultura. Mas outros elementos também tem levado ao desmatamento da região, como a urbanização, instalação de usinas solares e eólicas e a transposição do rio São Francisco, como explica o coordenador do MapBiomas Caatinga e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, Washington Rocha.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a Caatinga ocupa uma área de cerca de 862.818 km² (parte em destaque no gráfico), o equivalente a 10,1% do território nacional ou quase três Itálias.
Apesar de pouco conhecido, tem grande riqueza de ambientes e espécies, tratando-se do bioma semi-árido mais biodiverso do mundo.
Os pontos vermelhos são os registros de desmatamento. Cerca de 42% do território foi modificado pela ação do homem.
O desconhecimento do bioma fez com que, durante décadas, ele fosse tratado como região de pouca diversidade, devido a sua sazonalidade que é própria dos períodos de estiagem, quando há a desfolhagem da vegetação nativa, que retorna após os períodos chuvosos.
A Bahia tem sete dos 10 municípios com mais registros de ataques ao bioma no país entre 2019 a 2021. Já os outros três ficam no Piauí.
A região afetada jamais volta a ser a mesma, prejudicando fauna, flora, corpos d'água e comunidades remanescentes dos povos originários.
Parnaguá, cidade localizada ao Sul do Piauí, conta com a maior soma de emissões de alertas para desmatamento (área vermelha).
Fatores externos também são responsáveis pela falta de conservação do bioma, como a falta de uma forte estratégia de grandes organizações ambientais; falta de reconhecimento da Caatinga como patrimônio nacional, como acontece com outros biomas, que perdura até hoje; e a falta de políticas públicas de conservação e implantação de Unidades de Conservação.
Esse pensamento foi mudado graças a pesquisadores, principalmente de universidades de estados do Nordeste. Hoje, já há registro de 4.963 espécies de plantas, sendo que deste total 827 espécies (17% do total de espécies que se encontram no bioma) são conhecidos o estado de conservação e 30,1% destas encontram-se em alguma categoria de ameaça de extinção.
Já com relação às espécies da fauna, de um total de 1.182 espécies que foram avaliadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em 2018, 125 espécies, ou 10,57% do total, estão em alguma categoria de ameaça de extinção.
“O trabalho desses cientistas conseguiu mostrar as outras características e riqueza do bioma, inclusive essa questão da estiagem que provoca o desfolhamento, mas que depois volta. E mostrar a biodiversidade da Caatinga, que possui muitas espécies endêmicas. Esse cenário mudou no meio científico, mas não mudou em termos de ações de política pública e engajamento de ONGs com maior poder de atuação”, relata Rocha.
Ainda segundo o especialista, o desmatamento em um bioma como a caatinga é muito perigoso, principalmente diante das projeções climáticas. “Principalmente considerando o cenário de mudanças climáticas e que, segundo as projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Onu, projetam um aumento de temperatura e aridização no bioma. A nossa preocupação é que o desmatamento intensifique áreas propensas à desertificação, que resulta na perda de ecossistema permanente e de produtividade, levando a mais fome, por exemplo, em regiões que já sofrem com essa situação. Outro ponto é o mosaico de unidades de conservação, que ainda tem um percentual muito baixo de caatinga inseridas neste espaço, apenas 9%, e que têm sido pressionadas devido a construções de parques eólicos nas proximidades, por exemplo. Essas unidades deveriam ser ampliadas e não reduzidas”, completa o coordenador do MapBiomas.
Dados do MapBiomas apontam que o desmatamento na região da Caatinga aumentou todos os anos entre 2001 e 2020 - último dado disponível. Em 2020, o desmatamento foi 73% superior ao registrado em 2001 (gráfico abaixo).
Multas ambientais ultrapassam R$19 milhões
Danos causados à Flora, Controle ambiental e outras causas estão entre os principais responsáveis pela crítica situação em que se encontra a Caatinga. Somente em 2022, as multas somaram mais de R$19 milhões, conforme divulgou, com dados obtidos via LAI, a Fiquem Sabendo. Nos dados também faltam muitas especificações dos tipos de biomas afetados e infrações registradas.
A região é diversa e conta com representação de outros biomas, como Mata Atlântica, Costeiro Marinho, Cerrado e Amazônico.
R$ 195 milhões. É o valor de multas ambientais aplicadas no Nordeste em 2022 em todos eles. Do total, 58,7% do valor não apresentou registro do bioma.
A Caatinga representou 9,54% de todas as multas, com R$ 19 milhões em 2022 (ou 23,11% do valor com bioma registrado).
Os estados do Ceará, Bahia e Paraíba são os que contabilizam a maior soma em valores de multas na Caatinga.
Post Comments(0)
No comments